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quinta-feira, 15 de março de 2012

Descontrole.


  Atravessava a extensa avenida pouco movimentada, sob o céu estrelado protagonizado pela Lua. Poucos carros passavam, e poucas pessoas transitavam ali. Os outdoors brilhavam e as luzes dos bares piscavam. Por um instante cogitou entrar em um deles, beber até não poder mais e sair sem o controle de seus sentidos e sentimentos. Talvez controlá-los era a pior forma de lidar com eles. Talvez beber apenas anestesiasse a dor que sentia, e tentava por vezes implicitar.
  Por um instante, olhou para trás e observou as pessoas que também caminhavam alí. Passos lentos, olhares e mentes distantes. Eram como corpos sem rumo, sem controle. Talvez alguns já estivessem embriagados, e talvez o resto tivesse o poder tão almejado de descontrolarem-se quando preciso. Ou melhor, o poder tão almejado de nada sentir. De nada poder.
  Talvez todos estivessem ali buscando coisas semelhantes, ou até a mesma coisa. Mas o que seria? Uma resposta? Uma saída? Um motivo? Isso. Isso era o que buscavam. E recolherem-se para si mesmos pudesse ajudar a descobrir.
  Sentiu um alívio. Aquele sentimento de angústia não tomava mais seu corpo. E aquela vontade incessável de chorar, cessou. Precisava respirar. Precisava sentir a vida preenchendo seus pulmões novamente. Precisava voltar a viver. Precisava e queria naquele momento não precisar mais.
  Olhou seu celular. Uma e meia da manhã. Tarde demais. Todos dormem a essa hora e seria perda de tempo enviar um mensagem, ou ligar. Não queria incomodar. Não queria ser inconveniente e atrapalhar seus sonhos. Não queria e não podia. Mas tinha toda a coragem que necessitou antes justo naquele momento. A coragem de dizer tudo aquilo que sempre quis dizer. Tudo aquilo que guardou para si. Todas aquelas benditas palavras que pareciam sufocar cada vez que tentava dizê-las.Tudo aquilo que apenas seus olhos transmitiam. E que ninguém nunca reparou.
  E então, prometeu para si que da próxima vez que tivesse uma oportunidade, perderia o controle. Diria tudo o que sente. Falaria tudo o que pensa. Não cogitaria parar e se desculpar ou interromper as palavras que se desencadeariam a sair. Nada impediria de transmitir, da mesma forma que nada impediu de sentir.

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