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sexta-feira, 30 de março de 2012

Fragmento #1 - Breakaway

(...)   E então eu rezava, pedindo a Deus que tivesse misericórdia de mim, e me redimisse dos meus loucos desejos, em sua maioria, mortais. A primeira lágrima escorrera de meu rosto, que em poucos segundos ficou tamado por gotas de tristeza. Peguei minha manta e as sequei, num ato de tentar aliviar a dor, mas era impossível, minha garganta latejava implorando por um grito, seria fatal se eu cedesse, o 'monstro' sairia de sua caverna e em um ato de raiva e impaciência , 'mataria' a mim e a minha família. Eu me perguntava a todo instante se um espírito maligno se apoderava dele, ou se era pura maldade.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O garoto da linda voz.

   Era um dia comum. Ao menos até então. Entrei no ônibus, passei desajeitadamente pela catraca e me dirigi para o fundo. Contudo, desenrolando os fones de ouvido com dificuldade enquanto o ônibus percorria por entre as avenidas, me deparei com uma cena.
   Haviam dois garotos conversando. Conversavam e riam muito, comentando sobre qualquer coisa que viam com um entusiasmo que me fazia querer participar daquela conversa, apesar de saber que teria dificuldade para interagir com eles.
   Um deles me chamou a atenção. Cabelos ligeiramente desarrumados e uniforme que era constituído por uma camiseta branca com o slogan vermelho da escola e bermudas na cor preta. Nada disso importava. Fora apenas um detalhe, um pequeno detalhe para mim. E, apesar de ser muito bonito, não fora a beleza que destacou-se nele, mas o modo como ele falava. O modo como ele sorria e o modo como seus olhos brilhavam sob o reflexo de tudo ao seu redor.

domingo, 18 de março de 2012

A garota perfeita.



    A garota perfeita chora, se descabela e morre de tristeza por alguém. A garota perfeita ora usa vestido florido, ora coturno no pé. Ora vai à igreja, ora à um show de rock. A garota perfeita estuda, trabalha e ainda tem tempo para namorar, sair e se apaixonar. A garota perfeita muda o cabelo a cada mês, esperando mudar de vida a cada mês. A garota perfeita ouve a mesma música bilhões de vezes, só para sentir repetidamente um frio na barriga ao recordar de alguém muito querido. A garota perfeita briga, desbriga e ignora, pedindo desculpas algumas horas depois.

  A garota perfeita quer ser professora, médica, veterinária, modelo ou obstetra. A garota perfeita não assume que é perfeita, porque é adepta a ser modesta. Ela sempre recusa um elogio, dizendo a quem pratica tal ato “Não sou nada. Magina. Que isso!”. A garota perfeita tem inveja das outras meninas, ela quer ser igual aquela garota do filme, da novela, ou ter o cabelo ou os olhos daquela menina da escola. A garota perfeita quer ser perfeita, embora já seja assim.

  Não importa quem você é, como é e o que pode fazer para ser melhor que isso. Quando você passa a agir de tal modo, é porque coisas te levaram a ser assim. E são essas coisas, positivas ou não, que constroem a sua personalidade. São essas coisas, corriqueiras ou não, que fazem de você quem é. Não mude. Mas se melhore a cada dia. E te garanto, com toda a certeza do mundo (e ainda usando esse pleonasmo, só para enfatizar) que um dia, mais cedo ou mais tarde, vai olhar-se em frente ao espelho e dizer, assumindo para si mesma: “Eu sou perfeita... Do meu jeito.”

sábado, 17 de março de 2012

A protagonista.


    Saiu do ônibus e colocou a mochila nas costas. Por um instante, parou seu trajeto corriqueiro, e começou a refletir sobre onde estava, e o que fazia ali. Olhou para trás e viu o passado.
   O passado era tão incerto que não cogitava revirá-lo para tentar voltar a sentir as sensações presentes nele. Não cogitava porque chegava a ser inacreditável deparar-se onde estava, indo fazer o que sempre sonhou fazer. Isso, um sonho. E se era um sonho, melhor não revirá-lo e acabar acordando.
   Deu mais uns passos e sentiu um alívio. Um alívio por estar ali. Um alívio por ter conseguido. Um alívio que vinha do forte vento que, contra seu corpo, bagunçava sua franja. Felicidade talvez.
   Era bom estar lá. Era bom sentir seu relógio pressionando-a a ir mais rápido. Era bom passar o fim de semana inteiro ocupada. Era bom estar contente com si mesma, esperando mais de si mesma, acreditando ainda mais em si mesma.
   E a partir dali, o que seria? Mais sonhos? Mais metas? Contentação? Não sabia. Não sabia e preferia não procurar saber naquele momento. Queria apenas aproveitar a sensação de estar em uma realidade tão almejada. Estar dentro de um sonho, e o melhor, sendo protagonista real dele.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Descontrole.


  Atravessava a extensa avenida pouco movimentada, sob o céu estrelado protagonizado pela Lua. Poucos carros passavam, e poucas pessoas transitavam ali. Os outdoors brilhavam e as luzes dos bares piscavam. Por um instante cogitou entrar em um deles, beber até não poder mais e sair sem o controle de seus sentidos e sentimentos. Talvez controlá-los era a pior forma de lidar com eles. Talvez beber apenas anestesiasse a dor que sentia, e tentava por vezes implicitar.
  Por um instante, olhou para trás e observou as pessoas que também caminhavam alí. Passos lentos, olhares e mentes distantes. Eram como corpos sem rumo, sem controle. Talvez alguns já estivessem embriagados, e talvez o resto tivesse o poder tão almejado de descontrolarem-se quando preciso. Ou melhor, o poder tão almejado de nada sentir. De nada poder.
  Talvez todos estivessem ali buscando coisas semelhantes, ou até a mesma coisa. Mas o que seria? Uma resposta? Uma saída? Um motivo? Isso. Isso era o que buscavam. E recolherem-se para si mesmos pudesse ajudar a descobrir.
  Sentiu um alívio. Aquele sentimento de angústia não tomava mais seu corpo. E aquela vontade incessável de chorar, cessou. Precisava respirar. Precisava sentir a vida preenchendo seus pulmões novamente. Precisava voltar a viver. Precisava e queria naquele momento não precisar mais.
  Olhou seu celular. Uma e meia da manhã. Tarde demais. Todos dormem a essa hora e seria perda de tempo enviar um mensagem, ou ligar. Não queria incomodar. Não queria ser inconveniente e atrapalhar seus sonhos. Não queria e não podia. Mas tinha toda a coragem que necessitou antes justo naquele momento. A coragem de dizer tudo aquilo que sempre quis dizer. Tudo aquilo que guardou para si. Todas aquelas benditas palavras que pareciam sufocar cada vez que tentava dizê-las.Tudo aquilo que apenas seus olhos transmitiam. E que ninguém nunca reparou.
  E então, prometeu para si que da próxima vez que tivesse uma oportunidade, perderia o controle. Diria tudo o que sente. Falaria tudo o que pensa. Não cogitaria parar e se desculpar ou interromper as palavras que se desencadeariam a sair. Nada impediria de transmitir, da mesma forma que nada impediu de sentir.