Hoje me deu vontade de escrever (mais) sobre algo que eu venho escrevendo — e não necessariamente postando — há muito tempo. Minha caixa de postagens está cheia de rascunhos que eu não tenho coragem de publicar. Ah! Também tem uma caixa de papelão em cima do meu guarda-roupa que é cheia desses textos que eu escrevi e recebi, mas ninguém sabe, não imagina e nunca vai conhecer. Tem coisas que a gente não precisa mostrar ou simplesmente não vale a pena porque perde a graça.
Lembrei daquela casa, onde passei algumas tardes dando risada, trocando e criando histórias. Muitas delas estão perfeitamente armazenadas no meu coração e, particularmente, são lembranças mais incríveis e fodas que qualquer outro texto meu. Elas são vivas, e simplesmente recordá-las me dá a sensação de voltar no tempo. Senti o cheiro dos lençóis pendurados e o gosto do brigadeiro de panela.
Lembrei de quando eu dormia n'outro quarto da minha casa, um pequenininho onde mal cabiam meus livros e meus dois violões, contudo era repleto de histórias e ainda sobrava espaço. Ali eu chorei e morri de rir. Vivi amores e sofri decepções. Ali eu sonhei em ser quem eu sou hoje (graças a Deus!) geralmente sentada ao lado da cama, observando aquele céu pouco-estrelado de Sampa e me perguntando se um dia eu ia mesmo conseguir. Valeu, tô conseguindo. Amém.
E aquele violão preto (o "Lucas")? Chega a ser engraçado como ele sofreu na minha mão quando eu olhava aquelas seis cordas e não fazia ideia de como montar um som a partir daquilo. Depois de meses praticando toquei minha primeira música pra mim mesma e depois pras pessoas... Com ela eu toquei corações, fiz pessoas chorarem, fiz corações se apaixonarem, fiz neguinho perder o fôlego e fiz pessoas se inspirarem em mim pra fazerem o mesmo, ainda melhor. Fiz o básico, meu dever.
Eu tenho escrito muito sobre coisas e pessoas alheias, mas hoje eu preciso olhar um pouco pra dentro de mim e notar que muito mais do que uma garota comum de dezessete anos que estuda, trabalha e sonha em ser alguém, sou uma mulher em estado de construção que merece ser valorizada e merece ter um pouco de si registrado. Hoje eu olhei pras músicas que eu gosto, pras fotos que eu tenho guardadas e pras pessoas que eu amo e vi que simplesmente eu não tenho como falar de mim sem falar delas, é o que sou, quem sou e uma prévia de quem posso ser. Muito mais. Vi que às vezes eu preciso chorar pra valorizar o riso e ter uma decepção pra valorizar o amor, eu preciso perder pra ganhar, eu preciso cair pra aprender a levantar.
Ninguém é de ferro e muito menos perfeito, com uma vida perfeita.
Mas todos nós podemos sonhar em ser alguém além de quem somos.